sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O pouso e a tal da Arremetida

Bom dia amigos, depois de acompanhar em diversos sites, jornais e telejornais a cobertura do acidente envolvendo a aeronave em que estavam diversos profissionais de imprensa e o candidato a presidência Eduardo Campos, resolvi pesquisar melhor pra tentar entender o que aconteceu naquele voo e não cometer erros comuns de alguns colegas jornalistas como: "Avião arremete após tentativa mal sucedida de pouso. Ninguém ficou ferido". 
Em virtude disso, separei um texto escrito por Gustavo Pilati, Bacharel em Ciências Aeronáuticas pela PUC-RS e Co-piloto ATR 500, onde ele tenta explicar rapidamente e tirar dúvidas relacionadas aos procedimentos de pouso realizados pela tripulação naquele dia, o cenário meteorológico e que consequências isso traz na decisão de prosseguir ou não com o pouso. Boa leitura!

Regras do Ar e Controle de Tráfego Aéreo

A Base Aérea de Santos é diferente de um aeroporto de grande porte por não possuir uma “Torre de Controle”, mas somente uma Estação Rádio (AFIS, na sigla em Inglês) que nada mais é do que um órgão que passa INFORMAÇÃO ao piloto. Que tipo de informação? Direção e velocidade do vento, se esta chovendo ou não, cobertura de nuvens, etc. Notem que essa operação é completamente normal, vários aeroportos do país não têm tráfego suficiente para justificar a implantação de um sistema caro e complexo de radares. Baseado nas informações recebidas, cabe ao piloto decidir que procedimento ele irá efetuar para pousar no aeródromo. Como ele decide? Vamos analisar então a meteorologia do aeroporto na hora do acidente.

As condições meteorológicas na hora do acidente.

METAR SBST 131200Z 20006KT 4000 RA BR BKN018 BKN070 20/19 Q1019=

METAR SBST 131300Z 23007KT 3000 RA BR BKN008 OVC032 19/18 Q1022 RERA=

METAR SBST 131400Z 22008KT 2000 RA BR BKN008 OVC070 18/17 Q1023 RERA=

O acidente aconteceu aproximadamente às 10:00 da manhã, horário local (1300 UTC, em negrito). Para ter uma idéia melhor do cenário local, peguei a condição uma hora antes e uma hora depois (Fonte: Redemet).
Reparem que havia chuva moderada (RA), a visibilidade estava reduzindo (4000, depois 3000 e então 2000 metros) e com a camada mais baixa de nuvens inicialmente a 1800 pés (BKN018), diminuindo para apenas 800 pés nas horas seguintes (BKN008), o RERA no final significa Recent Rain, ou seja, que já estava chovendo na hora anterior àquela mensagem. O vento estava de Sudoeste, com velocidade média de 7 nós.
Uma das regras básicas que pilotos aprendem é que deve-se, SEMPRE, pousar e decolar contra o vento para que percorra a menor distância sobre a pista possível. Com o vento soprando de 230 graus, a operação seria mais favorável à pista 17 do que a 35. Porém no caso específico da Base Aérea de Santos, não há um procedimento específico para a pista 17. Caso se opte por fazer o pouso nessa pista, o procedimento da pista 35 deve ser executado até certo ponto e “se faz uma volta” ao redor do aeroporto, circulando-o e prosseguindo para pouso na pista oposta.

Mínimos meteorológicos para pouso.

Além de observar a direção do vento, os pilotos têm que consultar se as condições de nebulosidade e visibilidade atuais permitem a realização do procedimento, já que cada há um valor mínimo para a operação. Estes mínimos estão definidos na carta de procedimento do aeródromo e eles também variam conforme a categoria da aeronave. No caso do Citation 560XLS, ele se enquadra na categoria B
Echo1 NDB SBST
Abaixo, retirei somente a parte de baixo da carta, na qual se tem os mínimos para pouso:
Minimos E1 SBST
Repare que existem duas colunas, a mais da esquerda refere-se ao “POUSO DIRETO RWY 35″ e a da direita é “PARA CIRCULAR”. Considerando o pouso na pista 35 os mínimos são700 pés de teto e 1600 metros de visibilidade. Conforme o METAR das 1300Z, as condições eram: Teto de 800 pés e visibilidade de 3000 metros, portanto, dentro do mínimo necessário para o pouso.
Já se fôssemos considerar o procedimento para Circular (coluna da direita, aquele que dá a volta no aeroporto e pousa na pista oposta), os mínimos aumentam.São necessários1100 pés de teto e 2400 metros de visibilidade. Nesse caso, o procedimento não poderia ser realizado já que o teto estava 300 pés abaixo do mínimo necessário.
Reparem que temos uma situação aqui.
O procedimento para pouso na pista 17 (a mais favorável considerando o vento) não pode ser realizado já que está abaixo do mínimo publicado. Resta então pousar na pista 35, porém com vento de cauda. Apesar do vento não ser muito forte (7 nós), fazendo a decomposição de vetores, a componente de cauda para esse pouso na pista 35 era de 5 nós, o que é significante considerando que a pista de Santos tem somente 1390 metros de comprimento.

A aproximação

Definido o procedimento a ser feito, a tripulação tem que começar a preparar o avião para o pouso, já que é necessário reduzir a velocidade e posicionar o avião corretamente no alinhamento com a pista.
A carta de aproximação dá todas as informações necessárias para que a aproximação seja feita e a aeronave esteja completamente estabilizada no segmento final de aproximação.Acontece que existem inúmeros motivos que levam a aeronave não chegar estabilizada neste ponto, alguma turbulência, vento de cauda, etc. Caso o piloto julgue que não é seguro continuar a aproximação ele deve arremeter!

A arremetida

A cereja do bolo, a peça que faltava pros jornalistas de plantão largarem a manchete, em letras garrafais:
“Avião arremete e passageiros vivem momentos de terror”
ou então
“Avião arremete após tentantiva mal sucedida de pouso. Ninguém ficou ferido”
Pessoal, de uma vez por todas. Arremetida não é um procedimento anormal. Arremetida não é um desespero na cabine de comando. Por ser tão natural para os pilotos (sabemos que para alguns passageiros nem tanto) brincamos dizendo que um pouso nada mais é do que uma arremetida que não deu certo.
A “correria” dentro da cabine de comando durante uma arremetida é mais ou menos assim:
_Você ta vendo a pista aí?
_Não
_É, acho que hoje vou me atrasar pro jantar.
_E eu tinha marcado um cinema :(
_Iniciando arremetida…

Não acreditam né? Olhem o vídeo abaixo (A arremetida ocorre aos 04:20, mas acompanhem desde os 03:30 para perceber a calma da tripulação durante todo o procedimento)


É claro que para pessoas leigas ver um avião “subir de novo” é desconfortável, pode-se imaginar que houve algum problema no avião, vai ver um pneu furou, aí os pilotos perceberam e se pousássemos assim provavelmente o avião iria explodir e…calma!

Não houve nada demais. Como falei, é uma questão de segurança! O avião já está voando e ele gosta de voar (nasceu pra isso), então não há motivo para “forçar” um pouso se isso não é o mais correto.

Melhor começar tudo de novo e garantir que vocês cheguem em segurança em seus destinos.

Mas se é tão seguro assim, como o avião caiu na arremetida?

É muito cedo para se dizer qualquer coisa, quem lê o blog sabe que uma investigação leva tempo e muita coisa precisa ser estudada. O que eu posso dizer com 100% de certeza é que o avião NÃO caiu por causa da arremetida. Pode ter sido uma falha em algum componente, porém uma única falha não é capaz de derrubar um avião moderno como o Citation (Nem mesmo a falha de um motor na arremetida faria isso).
E o fogo saindo das turbinas antes do avião cair? Novamente, é preciso cuidado com os relatos de pessoas que viram o acidente, pois no momento de choque e de tensão as vezes a mente prega peças e o que parece ser não é.

Como e quando vamos saber o que aconteceu?

Diferentemente do que andam falando por aí, o relatório final de um acidente aéreo é um documento público (Aplica-se somente à aeronaves civis).Portanto, quando este for publicado (não há um prazo determinado, mas não será com menos de 1 ano) teremos um resumo de tudo o que aconteceu neste dia e os fatores que contribuíram para o acidente. Até este dia chegar, é tudo especulação.

Resumindo:

Arremetida é um procedimento comum, que não derruba avião e os pilotos são preparados e treinados para isso.

Texto retirado do blog Aviões e música: http://www.avioesemusicas.com/o-pouso-e-a-tal-da-arremetida.html

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Parabéns Chris Guto - Solta o som!

Hoje é o dia que se inicia uma nova jornada na vida do cara mais batalhador que conheci nos últimos cinco anos, é o aniversário do meu amigo e irmão Christiano Augusto Lopes, ou simplesmente, Chris Guto.
Sou suspeito pra falar desse cara, pois tenho tamanha admiração por esse Paranaense/Paulista que escolheu o Acre para viver e constituir família e ainda nos trouxe todo o seu talento musical fazendo o som mais sincero e transparente pros nossos ouvidos. E não é só por isso, por ser também um amigo presente (nem sempre), pai dedicado, bom esposo, genro, filho, enfim, no popular, o cara é gente boa.
Quero te dizer aqui nessas mais singelas palavras, que tenho muito orgulho em compartilhar da sua amizade, hoje e sempre, porque, abençoados sejam os irmãos que a vida nos deixa escolher e você é esse irmão que a vida colocou no meu caminho. Que Deus, nosso Pai, ilumine ainda mais seu caminho, para que possa conquistar todos os seus sonhos.
Como diz o trecho da música do fundo de quintal, “Quero chorar o teu choro, quero sorrir teu sorriso, valeu por você existir amigo”, que a nossa amizade se fortaleça cada vez mais.

Parabéns pelo seu aniversário, parabéns pelo seu dia, continue sempre sendo esse cara humilde e verdadeiro. Parabéns meu irmão!

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Marcos Suzano, o mito - Solta o som!

Dia 1º de julho teremos um mega show com o cantor e compositor Lenine na concha acústica do parque da maternidade em Rio Branco - Ac. É o projeto encontros socioambientais com Lenine patrocinado pela Petrobras que visa o desenvolvimento sustentável e a promoção do direito.
Mas não é do Lenine que eu quero falar e sim de um dos maiores percussionistas do mundo, (pra mim, o melhor!), Marcos Suzano. Sou suspeito pra falar desse cara porque ele é meu ídolo dentro da música e muita coisa aprendi o vendo tocar em shows, vídeo aulas e ouvindo seus discos.
Marcos Suzano desenvolveu técnicas para pandeiro, instrumento esse que ele difunde em cursos e oficinas. A técnica de Marcos Suzano parte do princípio de tocar o pandeiro "ao contrário", isto é, tomando como tempo forte não a batida do polegar, mas a das pontas dos dedos contra a pele do pandeiro (geralmente a batida das pontas dos dedos é dada fora do tempo forte, dado pelo polegar). Segundo o músico, essa técnica facilita a realização de ritmos fora do padrão do pandeiro, como compassos ímpares, por exemplo.
Mas a formação de Marcos vai muito além das suas técnicas para pandeiro. Começou tocando surdo e cuíca antes de fixar – se no pandeiro, Cursou Economia, mas durante o curso já frequentava a casa de Hermeto Pascoal e de Radamés Gnattali. Estudou ritmos africanos num grupo com Paulo Moura, tocou com Zizi Possi, Água de Moringa, Marisa Monte, Zé Kéti, Gilberto Gil e Lenine, com quem tem uma parceria até os dias de hoje, parceria essa, que rendeu em 1993 o disco “Olho de Peixe”.


Seu primeiro trabalho solo, "Sambatown", é de 1996 e traz usos inovadores para o pandeiro, intensificando a batida samba-funk e a utilização de sons mais graves. Em 2000 saiu "Flash", seu segundo disco solo, em que o músico vai mais a fundo no uso da música eletrônica.
Suzano faz também parte do grupo Pife Muderno, liderado por Carlos Malta.
Pra quem gostou do texto e tiver interesse em conhecer melhor esse músico, separei uma entrevista feita pelo jornalista Malcolm Lim feita em outubro de 2005, que vale muito a pena ler. Segue o link: http://www.pas.org/pdf/Suzano.pdf

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Percussão: peculiaridades e riquezas



Muitas vezes quando chego em algum lugar e digo que sou músico é comum as pessoas perguntarem qual instrumento eu toco, sempre respondo que toco vários, sou percussionista (Pra quem não sabe além de jornalista, sou músico), então, a pessoa me indaga: o que é percussão? Para tirar essa dúvida, preparei um texto* em que explica pelo menos um pouco do que eu e muitos outros colegas de batuque fazemos, tem também a explicação de alguns dos instrumentos que eu uso no meu dia a dia. Espero que gostem!

Em sua maioria simples e artesanais, os instrumentos de percussão são os mais antigos que existem, cuja função é enriquecer o contexto musical das músicas populares e Orquestras Sinfônicas, devido à variedade de sons que oferecem. Sua produção sonora vai desde o mais simples ataque à “raspagem” e agitação do instrumento.
O papel do percussionista é o de conferir textura rítmica às músicas – ou seja, mantendo o ritmo, mas caracterizando, tornando a música única. Faz até intervenções esporádicas - afirmando a sua personalidade e solos em que explora sua criatividade, “abusando” da variedade sonora proporcionada pelos instrumentos. A variedade de instrumentos de percussão é imensa, e as possibilidades de combinação entre eles é praticamente infinita – cabendo ao músico a criatividade e talento para combiná-los.

Presente nas World Musics, New Waves, eruditas, músicas populares e até mesmo eletrônicas, a percussão não tem limites estabelecidos, atingindo tanto o contexto rítmico quanto o harmônico (como no caso dos xilofones e sinos). Para efeito de visualização, listei abaixo alguns itens desse universo musical da percussão. A maioria dos listados são de fabricação puramente artesanal, por ser uma tradição do mundo da percussão. Confira:



Congas:

É um tambor originário de cuba, comprido, feito de casco parecido com um barril, tradicionalmente usado em duo ou trio. As peles são esticadas por canoplas, que substituíram as cordas, que eram usadas antigamente. Seu som ecoa entre o médio e o grave, com um timbre característico da pele de búfalo. Seu corpo é feito de diferentes madeiras, tais como cerejeiras, angelim ou carvalho – e até de fibra de carbono. É mais usada em ritmos latinos, como o merengue, salsa, moçambique e a conga. É o instrumento responsável pela marcação da base rítmica principal.


Bongô:

Também originário de Cuba, os bongos são dois tambores conectados, de forma cônica, numa estrutura de várias peças que formam algo semelhante a um barril, ou até corpos inteiriços, feitos de cabaça. Possui o tambor chamado “fêmea” (mais agudo) e o “macho” (mais grave). As peles mais utilizadas são as de gado ou de cabra. Seu timbre varia com a forma de ataque, sendo um timbre mais abafado com a palma da mão ou mais brilhante com a ponta dos dedos. Junto com as congas, compõem a textura sonora do merengue, da salsa e da conga – tradicionalmente latinos.




Repique:

O repique é um tambor pequeno que, diferente dos dois supracitados, possui pele dos dois lados. Essa pele comumente é sintética, e seu corpo é metálico. Ele é usado com uma ou duas baquetas, e por ser pendurado no corpo, suas peles ressoam em conjunto quando ocorre o impacto. É bastante usado em bandas marciais, em conjunto com demais instrumentos de percussão. Em conjuntos, é mais solista, sem compromisso de manter a base rítmica, como no samba, ou com tamborins, no ritmo galopado.





Carrilhão:

Instrumento composto por tubos metálicos, que produz som através do deslizamento da mão pelos tubos, fazendo eles vibrarem e manterem um som brilhante com sustain prolongado. Sua função musical é puramente de efeito, sendo impraticável usá-lo para manutenção da base rítmica.







Caxixi:

O caxixi é um instrumento completamente artesanal, como um chocalho, porém com uma estrutura que permite o percussionista tocá-lo em segundo plano, junto com demais instrumentos. No caso da capoeira, ele é segurado pelo tocador de berimbau. Pode ser simples, duplo ou triplo, dependendo do contexto. A versão tripla é mais usada em manifestações ritualísticas dos africanos, garantindo maior sustain nessa versão. Há quem use o caxixi acompanhado de uma vareta, esta dando pancadas no seu corpo.





Quexada:

Instrumento de origem indefinida, é composto por uma esfera densa e uma caixa vibratória conectados por um aço na forma de um “queixo”, que quando tensionado, faz um som oco e contínuo por algum tempo. Assim como o carrilhão, sua função musical é de mero efeito, não servindo para sustentar a base rítmica.




Cajón:

Originário das regiões do Peru, o cajón (caixão em espanhol) foi um aprimoramento dos instrumentos de percussão que os escravos africanos usavam para tocarem seus ritmos. Tombado como patrimônio cultural do Peru, sua estrutura é bem simples, sendo uma caixa curvada com um tampo, esse tampo tendo tamanhos diferentes conforme varia sua altura, para produzir os diversos sons. Foi utilizado para o flamenco por muito tempo, mas sua popularização fez o instrumento se encaixar em praticamente todos os estilos musicais.





Triangulo:

Instrumento de origem portuguesa, o triângulo possui a forma de um isósceles, e é comumente composto por ferro ou aço, podendo ser encontrado também em alumínio (menos duráveis). Seu timbre é brilhante, e é obtido mediante constante movimento do bastão por dentro do instrumento, contando com artifícios que mudam seu som, como a variação na pressão da mão que o segura. É muito usado em ritmos regionais, como o forró, o xaxado, o xote e etc.






Pandeiro:

Instrumento de origem indefinida, estando presente na Ásia, África e Europa. Sua estrutura não possui uma caixa de ressonância, sendo apenas uma pele esticada sobre o aro, podendo ser de madeira ou de metal. Sua forma é circular ou meia-lua. Seu som é obtido mediante brandimento do instrumento, fazendo um som constante, ou pela percussão dos dedos e da mão. Apesar de simples, seu timbre é rico, pois mistura o brilho das soalhas (placas de metal) com a pele, podendo esta ser couro ou sintética.







* Informações retiradas do site www.timbres.com.br 














terça-feira, 29 de abril de 2014

Por trás do ídolo Ayrton Senna: Polêmicas em alta velocidade

Inimigos íntimos. Ayrton Senna e Alain Prost em março de 1988, logo depois de se tornarem colegas de equipe na McLaren. Nos seis anos seguintes, os dois seriam protagonistas de uma das maiores rivalidades da história da F-1 (carlos ivan/20-03-1988)

 
Para os fãs, ele era talentoso, apaixonado pela velocidade, obstinado em busca do primeiro lugar. Para alguns rivais, no entanto, Ayrton Senna era mais que um adversário muito acima da média, mas também um piloto capaz de extrapolar os limites da razão em nome da vitória. No início da carreira, o brasileiro vetou a entrada do inglês Derek Warwick na Lotus, em 1986, alegando que a equipe não tinha condições de oferecer carros competitivos a dois pilotos. Já tricampeão, brigou com Eddie Irvine após ríspida discussão sobre uma ultrapassagem do irlandês, então retardatário, no GP do Japão de 1993. Mas nenhum deles se tornou exatamente um desafeto do brasileiro. Na verdade, se o assunto é conflito pessoal, nada chegou sequer perto da dupla Alain Prost e Ayrton Senna, provavelmente os dois maiores rivais da história da F-1.
Quando chegou à McLaren, em 1988, Senna era o jovem promissor que, pela primeira vez, teria um carro à altura para disputar o título mundial. No outro cockpit, estava o Professor, apelido do francês, então bicampeão mundial (1985-1986). Como Senna foi contratado em uma operação conjunta que também tirava da Lotus os motores Honda, Prost logo ficou preocupado com o seu posto de primeiro piloto.
— Pela primeira vez eu vi Alain tenso. Ele havia alcançado o status de número um na equipe e, de repente, havia um jovem que tinha total noção do que era ser competitivo — lembrou o chefe da McLaren, Ron Dennis, em entrevista na sede da equipe, sobre os 20 anos sem Ayrton Senna.
O dirigente tentou de todas as formas convencê-los de que ninguém seria beneficiado na escolha dos motores e no acerto dos carros. Incluindo um inusitado, porém imparcial, cara ou coroa.
— Os engenheiros da Honda diziam: “Estes são os dois motores com que devemos correr.” Então, recorríamos à velha moedinha para sortear quem levava qual motor. Era o jeito mais fácil de garantir que não havia favorecimento — relatou Dennis.
Senna e Prost eram a antítese um do outro. Dentro e fora das pistas. Casado, com um filho de 6 anos — depois, ainda teria mais duas meninas —, o francês tinha um estilo clássico de direção, e sabia administrar resultados para somar o máximo de pontos no campeonato. O brasileiro, solteiro, fazia da F-1 sua família na Europa — era capaz de ficar nos boxes até a noite conversando com engenheiros sobre o acerto do carro, o que incomodava quem via as corridas apenas como profissão. Dentro do carro, Senna era agressivo e determinado a vencer, o único resultado que lhe interessava.
Apesar da disputa árdua pelo título de 1988, conquistado por Senna na penúltima etapa, no Japão, o ano transcorreu sem incidentes graves. Em 1989, porém, os frágeis laços de diplomacia e de convivência se rasgaram de vez quando o francês acusou o brasileiro de trair um pacto de mútua não-agressão em Ímola, no GP de San Marino, ganho pelo brasileiro. O GP do Japão, penúltimo daquele ano, serviria para transformar a rivalidade numa feroz inimizade. Lutando pelo título, os dois terminaram batendo quando Senna tentou ultrapassar Prost na chicane. O francês, que seria o campeão se o brasileiro não pontuasse, não fez o menor esforço para evitar a colisão. Ajudado por fiscais, Senna voltou à prova, cortando a chicane por fora da pista, e venceu o GP, único resultado que lhe manteria ainda na briga pelo título.
Entretanto, enquanto Senna ainda estava na pista, Prost procurou o então presidente da FIA, seu compatriota Jean-Marie Balestre, e acusou o rival de ter desrespeitado a regra que obrigaria o piloto a retornar à pista por onde havia saído. O brasileiro foi desclassificado, e o francês, que já estava de saída da McLaren, contratado pela Ferrari, garantiu o título. O troco de Senna veio no ano seguinte, novamente em Suzuka, no Japão. Líder do campeonato e pole position, Senna reclamou por terem mudado a posição de largada, colocando-o no lado sujo da pista, e como não foi ouvido, decidiu resolver a questão ao seu modo: dividiu a primeira curva com Prost, os dois foram parar na caixa de brita, e Senna garantiu o título com a saída do adversário, na manobra mais controversa da sua carreira.
— Eu lembro de olhar os traçados, os freios, os pedais de acelerador (na telemetria). Não é preciso ser Einstein para imaginar o que aconteceu. Quando ele voltou aos boxes, eu disse: “Estou desapontado com você.” Ele tinha conseguido (o título). Não tinha nada a dizer — comentou Dennis. — Foi um de seus raros momentos de fraqueza. Não acredito que seja algo de que ele ficou particularmente orgulhoso.
O estilo agressivo de Senna gerava críticas. Interpelado pelo escocês Jackie Stewart, tricampeão mundial (1969, 1971 e 1973), em uma entrevista para um programa de TV, Senna se defendeu: “Se você não procura ocupar o espaço vazio (deixado por outro carro), você não é mais um piloto de corridas”. Outro desafeto declarado era o também brasileiro Nelson Piquet, tricampeão em 1981, 1983 e 1987, que levou a disputa para o lado pessoal ao insinuar que Senna era homossexual. A rivalidade entre os dois dividiu o Brasil entre “Sennistas” e “Piquetistas” na ocasião.
Com Prost aposentado, após conquistar o tetra em 1993, os fãs da F-1 já imaginavam a próxima rivalidade. Senna seria, então, o veterano confrontado por um novato talentoso, sedento por glória, o alemão Michael Schumacher. Um duelo que a tragédia em Ímola não deixou se concretizar.
Testemunha dos fatos mais importantes da F-1 nos últimos 40 anos, o jornalista Reginaldo Leme, comentarista da Rede Globo, via com naturalidade as discórdias entre os grandes pilotos. Para ele, defender seus pontos de vista era uma das principais características de Senna.
— Eu me lembro de uma grande polêmica entre ele e o Jackie Stewart, por causa de uma pergunta que ele fez ao Ayrton. Noutra ocasião, ele brigou com o Eddie Irvine. Brigou de mão! Mas os principais desentendimentos foram com Prost e Balestre — relatou Leme. — Ayrton defendia seus pontos de vista a qualquer custo, e era muito difícil fazê-lo pedir desculpas. Mas tudo isso era por causa de sua determinação e de sua personalidade forte. É algo que se via no Schumacher, que se via no Prost e no Piquet, e que se vê no Fernando Alonso. Eles não eram marrentos, mas defendiam seus posicionamentos. A autoconfiança era uma característica de Senna. Ele estava sempre certo.

* Matéria retirada do caderno de esportes do jornal O Globo escrita por Allan Caldas e Claudio Nogueira


 



 

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Saudades de ti Prirmão!

Dois anos se passaram e a saudade que sinto de ti ainda é enorme. Guardo no peito e na mente tudo que passamos e vivemos juntos, inclusive a última mensagem que trocamos.
Sempre fomos mais que primos, ótimos amigos, ainda mais que isso, fomos irmãos.
Não lembro de você com tristeza, não choro por você ter partido, choro de saudade de você por saber que perdemos uma pessoa como você, seus conselhos e suas risadas, mesmo assim existem momentos em que a lembrança faz doer o coração e uma lágrima desce pelo rosto.
Mas sei meu “Prirmão” que você está em um lugar reservado aos melhores e espero um dia estar junto de ti.
Obrigado Deus por ter me dado a honra e a felicidade de conhecer e conviver com uma pessoa como o Mário.
Onde quer que esteja, nunca deixarei de te amar!

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A comunidade chora!

Arnesto mostra orgulhoso a partitura 001 do Samba do Arnesto
Foto: Leonardo Soares/Estadão
A comunidade do samba chora nesta quarta-feira, 26, ao saber que um dos seus personagens mais famosos partiu para o andar de cima.
Ernesto Paulelli, homem que inspirou a música “Samba do Arnesto”, que foi como Adoniran Barbosa o rebatizou em sua música. Arnesto e Adoniran se conheceram em 1938, quando ambos trabalhavam nas rádios paulistanas, aliás, desde esse tempo que Arnesto se dedica a desmentir a fama de furão que ganhou após a canção ficar famosa.
Até o fim da vida, Arnesto guardou, com orgulho daqueles de brilhar os olhos, um presente valioso que ganhou de Adoniran: a partitura número 001 – como ele mesmo reforçava, com os dois zeros antes do um – do Samba do Arnesto. Com dedicatória do amigo compositor: “Ao acadêmico Ernesto Paulella (sic), a quem dediquei esta composição quando do seu lançamento, em maio de 1955. Homenagem do autor, Adoniran.” Lúcido mesmo com a idade avançada, ele costumava cantarolar o samba que o consagrou com frequência, sempre que lhe pediam.
Ernesto Paulelli, ou melhor , o Arnesto , faleceu aos 99 anos deixando dois filhos, dez netos e nove bisnetos um legado inteiro para o samba. E uma fama de furão!
Vai com Deus e te encontra com teu grande amigo para cantarolar pelos céus.